terça-feira, 22 de maio de 2012

Mês de Maio: Imaculada Conceição de Maria


Padroeira de várias cidades e paróquias em nossa diocese, hoje falaremos de Nossa Senhora da Conceição.

A definição dogmática da Imaculada Conceição de Maria chegou no dia 08 de dezembro de 1854, através da bula “Ineffabilis Deus”, definida pelo Papa Pio IX, em momentos distintos: sociocultural modernista, e eclesial antimodernista, ainda que diante do silêncio da Bíblia e da tradição mais antiga. Com isso, a manifestação do Papa de “satisfazer ao piíssimo desejo do mundo católico”, deu-se através do “sensus fidelium”, que significa o sentir comum dos fiéis diante de certas verdades da fé, que, até então, não haviam sido proclamadas pelo Magistério da Igreja.
Assim definiu o Santo Padre:
“Declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina, a qual retém a beatíssima Virgem Maria no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente e em vista dos méritos de Jesus Cristo, salvador do gênero humano, tenha sido preservada imune de qualquer mácula da culpa original, é revelada por Deus e portanto dever ser crida firmemente e constantemente por todos os fiéis”.
Foi de significativa importância a fé popular, desde os primórdios da Igreja, para que se colimasse na definição do dogma da Imaculada Conceição. Há que se considerar que muitos Padres da Igreja chegaram a exaltar Maria, cognominando-a de “santíssima”. Nesse diapasão, sobressaiu-se Santo Agostinho, ao manifestar que “a piedade impõe reconhecer Maria sem pecado” e que Maria não “entra absolutamente em questão quando se fala de pecado”.
A Conceição Imaculada de Maria é a garantia da possibilidade da realização do plano de Deus nesta terra, de tal forma que não só a alma de Maria é preservada do pecado, mas toda a sua pessoa é penetrada e animada pela graça. “A Virgem de Nazaré foi admiravelmente santificada desde o instante de sua concepção. [...] Abraçando a vontade salvadora de Deus com todo o coração e sem nenhuma sombra de pecado, consagrou-se totalmente como serva do Senhor...” (Inter Mirifica n.º 56).
Apoiado nos dados da Revelação, o dogma é percebido por instinto de fé, que proclama a absoluta santidade da Mãe de Jesus, vinculando-se este mistério à leitura feita pela Igreja e pela Tradição. No Velho Testamento, Maria aparece como a “morada de Deus”. No Novo Testamento, é aquela que mais se aproxima de Deus (cf. Lc 1,28.42).
Maria coloca-se como a encarnação do povo judaico, a síntese personificada da antiga Sião-Jerusalém, protótipo da vocação de um povo (cf. Ef 1,4). Nela acontece a Nova Criação, a plenitude da santidade divina. A Imaculada Conceição fortalece e sustenta a esperança do povo em Deus, de tal forma que o Reino de Deus já se realiza nesta terra. Assim, toda pessoa de Maria se faz penetrada e animada pela graça, a morada de Deus,  já que Ela se abre para a graça, e torna-se cheia de graça.
Foi pela fé e pela disponibilidade que Maria tornou-se cheia da graça do Senhor, abandonando-se conscientemente e com toda liberdade ao plano do Pai, plasmada com todo carinho desde toda a eternidade. A Maria Ele se revelou, tendo-A preservado do pecado original. É dessa graça que Ela participa singularmente, possibilitando a Deus tornar-se um de nós, na encarnação, revelando-se através de Jesus Cristo. Assim, Ela ilumina a realização do projeto salvífico do Pai.
Maria foi moldada como obra-prima de Deus, para seu ministério de mulher, de mãe e de esposa, razão esta que A leva a participar da comunhão das Pessoas Divinas.
Como Mulher, manifesta-se pelo amor. Abre seu corpo à ação de Deus e concebe: “Eis aqui a escrava do Senhor...” (Lc 1,38); como Mãe, torna-se mãe de todos pela fé, oferece seu filho ao mundo, doando-O a toda a humanidade: “A Mãe de Jesus estava junto à cruz” (Jo 19,25); como Esposa, manifesta-se pela humildade, ao participar da comunhão trinitária, e se abre à liberdade do Pai: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (Lc 1,35); “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). “Maria é grande, precisamente porque não quer fazer-se grande a Si mesma, mas engrandecer a Deus. Ela é humilde: não deseja ser senão a serva do Senhor!” (Deus caritas est 41).
Maria se insere num plano da alegria dos fatos que constroem a História da salvação de toda a humanidade: quer seja nas palavras de Isabel, quando se vê que o amor não se esgota em Maria (cf. Lc 1,43); quer seja ao entoar o Magnificat, que, tendo jorrado da profundidade da fé de Maria, manifesta-se como o espelho de su’alma (cf. Lc 1,47); quer no nascimento do Salvador (cf. Lc 2,10-11), que, a exemplo de Ana – Mãe de Samuel, exulta de alegria ao seu Deus por lhe ter dado um filho (cf. 1Sm 2,1); quer na Ressurreição (cf. Lc 24,41), quer na Ascensão (cf. Lc 24,52), diante do mandato oficial de seu Filho: “Vão e façam discípulos todos os povos”. (Mt 28,19); quer no Pentecostes (cf. At 1,8), ao colocar-se como primeiro membro e cooperadora no nascimento da comunidade Igreja (cf. At 1,13-14).
Toda essa alegria se insere no mistério de Cristo, pois vem do Senhor Deus: “Alegra-te!”. Estar com o Senhor é uma alegria que está presente também na provação. Por isso, manifesta profunda fé em seu Deus: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque vai acontecer o que o Senhor lhe prometeu” (Lc 1,45); além disso, manifesta também solidariedade para com todos os homens (cf. Jo 1,1-12).
Diante do “sensus fidelium” e da tradição, como expressões da grande maioria do povo cristão e ao longo de sua história, a Imaculada Conceição de Maria foi sempre intuída como magnânima expressão de fé àquela que é cheia de graça, toda pura, encantadora, belíssima, formosa, Mãe da nova humanidade, Mãe do Senhor, Mãe de Deus! Maria é a Mulher fulgurante como o sol, bela como a lua (cf. Ct 6,10), vestida de sol, tendo a lua sob seus pés, coroada de estrelas (cf. Ap 12,1).
“A Imaculada é ícone da humanidade reconciliada consigo mesma, com sua origem e com seu destino.”

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